segunda-feira, abril 10, 2006

FOBIA DE INSETOS - conto

Esse é um dos meus contos mais comentados em foruns de escritores.

Augusto tem uma fobia por insetos e ele mal sabe que está prestes conhecer o limite de seu medo na Fuga da Sanidade.

FOBIA DE INSETOS Por Rodrigo Carvalho®

Augusto acordou em sua cama. Olhou a hora no relógio. 3:00 horas da madrugada. Estava sem sono, cansado e com um pouco de dor de cabeça.Foi até a cozinha e bebeu um copo d’água. Lavou o rosto no banheiro, voltou para cama e esperou o sono voltar.
Começou a pensar no pesadelo que acabara de ter. Via a cidade infestada de enormes insetos. Ele sentiu um calafrio pelo corpo só de pensar nisso. Ele tinha fobia a insetos, descartando somente formigas pequenas. Esses pesadelos têm sido constantes ultimamente. Talvez, seja pelos problemas que estava passando em sua vida social. Outrora, levava uma boa vida, tinha um bom emprego e estava destacando-se na faculdade de medicina. Mas hoje, sua vida caiu nas garras da decadência. Foi despedido do banco onde trabalhava, seu pai morreu de enfarto a poucos meses e suas notas na faculdade caíram muito, fora que suas mensalidades estão três meses atrasadas. Com esses motivos, Augusto foi perdendo a vontade de viver.
O sono voltara enfraquecendo seu corpo e sua mente, e ele cedeu com prazer.
Agora ele se encontrava vagando pelas ruas no pôr-do-sol. Estava indo se encontrar com Vanessa, sua namorada, na praça. Ele a viu de costas e olhou as horas. Estava uma hora atrasado. “Ela deve estar furiosa” pensou ele. Mesmo assim, ele vai até lá pedir desculpas.
- Oi - disse ele, mas ela continuava de costas com os braços cruzados. – tá bom...sei que me atrasei de novo.
Ela continuava na mesma posição.
- Ora vamos... - disse ele – fala comigo!
Ela se virou para trás e no lugar de seu rosto estava a cara de uma aranha. Augusto gritou e se afastou. Ele acordou novamente em seu quarto e, ainda desperto, sentia minúsculas patinhas correndo pelo seu corpo. Se via cheio de insetos. Gritou novamente e pulou da cama derrubando alguns. Eram milhares, de todos os tipos e muitos o machucam com seus ferrões.
Augusto continuou derrubando-os com suas mãos. Mas eles pareciam que nunca acabavam, como se nascessem outros instantaneamente. Alguns entravam em sua boca e ele os cospia fora. Seu coração batia aceleradamente e ele achava que poderia ter um enfarto.
Gritou por socorro, mas ninguém apareceu. Correu para a cozinha, pegou o inseticida e jogou por todo o corpo. O inseticida acabou e nenhum inseto morreu.
Então correu para o banheiro e ligou o chuveiro. Em seguida, ficou debaixo dele tentando lavar o corpo. Quanto mais insetos caiam, mais apareciam.
Ele não aquentava mais essa agonia. Esses monstrinhos estavam em todo o seu corpo, desde os cabelos e a boca, até os pés e entrando em seu ânus. Ele enojava o próprio corpo e se pudesse mudaria de pele, pois para ele nem todos os tipos de banho tirariam tal “sujeira”.
“Já deveria estar rouco de tanto gritar”, pensou ele enquanto baratas tentavam entrar em sua boca. Talvez sua garganta seja mais resistente do que aparenta. Mas isso no momento não era o mais importante. Esse era, sem dúvida, o pior momento de sua vida e ele rezava para que aquilo não fosse real. Talvez sua fobia tivesse chegado a um estado muito avançado e estava lhe causando alucinações. Ou melhor, talvez aquilo fosse apenas um pesadelo. Mas não podia ser real.
Bateu três vezes com sua cabeça na parede na esperança de acordar. Nada aconteceu. Correu então para a cozinha onde pegou uma faca e fez um corte na palma de sua mão esquerda. A dor era tão grande que por um momento ele esquecia o seu sofrimento. O sangue escorria pelo seu braço e sujava alguns insetos. Mas, novamente, ele continuava em seu insuportável pesadelo. Percebeu, então, que não estava sonhando. E estava começando a perder a hipótese de ser apenas uma alucinação. Decidiu então ligar para Vanessa.
O telefone não funcionava.“Essa merda deve tá quebrada!”,pensou ele.“Talvez seja até melhor ela não me ver assim!”.
“Acho que é o fim!”, pensou ele sentando no sofá. Já não sentia tantas dores e nem se preocupava com o que fosse acontecer a ele, pois havia perdido a vontade de viver. Só lhe restava uma coisa a fazer: refletir sobre sua vida.
“Talvez seja melhor morrer”, pensou ele. Não tinha nada nesse mundo que o interessava, exceto Vanessa. Mas ele já não a amava tanto e seria melhor ela procurar alguém mais interessante, com um bom futuro e não um cara na beira da decadência.
Foi até a gaveta do seu armário e pegou seu revólver. Abriu bem sua boca e enfiou o cano da arma. Sua mão tremia um pouco e ele soava frio. Os insetos continuavam a violentar seu corpo. Ele pensou uma última vez em Vanessa e apertou o gatilho.
Algumas horas depois acordou.Os insetos ainda atacavam seu corpo e ele continuava em seu apartamento. O chão estava sujo de sangue e sua cabeça também. Mas o buraco da bala desapareceu. “Merda! Eu devia tá morto!”, pensou ele.
“Mas que droga tá acontecendo?”, pensou ele novamente. Correu para a sala. Tentou abrir a janela para pular, mas ela não abria. Apesar de não sentir muito a dor causada pelos insetos, a agonia era cada vez maior. Ele precisava se matar e se livrar dessa agonia de uma vez por todas.
Dava muitos socos fortes, mas a janela não cedia. Pegou então uma cadeira e, com toda sua força, bateu contra a janela. Finalmente ela cedeu e ele podia ver a cidade. Mas tudo parecia diferente, vazio. Não tinha carros circulando nas ruas, o céu estava roxo e as trevas tomam conta de prédios e casas. Ele se sentia só no mundo.
Começou a escutar grandes pisadas. Sombras se moviam no chão. Então insetos gigantes surgiram soltando gritos agudos e ensurdecedores. Augusto não conseguia acreditar no que via e se afasta da janela. Ele precisa se matar logo. Tentava se suicidar de várias formas, porém, não conseguia: sempre acorda em seu pesadelo real com os insetos em seu corpo.
Ajoelhou chorando e começou a gritar “O que está acontecendo!”. Ao dizer isso, imagens começaram a aparecer em sua mente. Ele se via jogado na cama com uma um lençol dando um nó em seu pescoço.Vanessa estava do lado da cama chorando com as mãos no rosto. Em seguida via-se dentro de um caixão e um padre com a bíblia aberta em suas mãos dava um sermão. Parentes e amigos estavam ao seu redor chorando e alguns também rezando. Seus irmãos consolando sua mãe e Vanessa sendo consolada por seu pai e seu irmão. Em seguida via-se nu dentro de um enorme útero. Sentia a dor de seus pecados e uma luz mórbida o puxava para fora.
Todas essas imagens lhe atingiam como flechas venenosas. Finalmente, ele sabia o que realmente aconteceu.

4 comentários:

Anônimo disse...

o que realmente aconteceu ?

Rodrigo Moreno disse...

O que você entendeu?

Anônimo disse...

nem li

Anônimo disse...

Creio que ele tenha se matado e tudo aquilo que ele estava sentindo era como se fosse seu castigo, tipo como se ele fosse pro inferno, sendo este sentir sua fobia eternamente sem poder se matar.