terça-feira, setembro 22, 2009

A MOÇA DE BRANCO - CONTO

A MOÇA DE BRANCO

Todas as noites quando eu saía do trabalho lá estava ela na beira da esquina a esperar minha carona. Ela sempre com aquele vestido branco, bem fora de moda, mas isso até ressaltava sua beleza. Mesmo que seja lívida como um cadáver, observada de perto, é de uma lividez viva, limpa. Um cadáver não tem a pele assim. Ela acenou com a mão direita de maneira elegante, aliás, todos os seus movimentos são desse jeito, de uma elegância romanesca, clássica, que não existe mais. Abri a porta e a deixei entrar, ela sorriu e não disse mais nada a viagem toda. Novamente tentei puxar algum assunto. Mas ela permaneceu em silêncio, apenas sorrindo e balança a cabeça concordando com tudo que eu dizia. Dava carona a ela todas as noites e por mais estranho que possa parecer não a conheço, não sei de onde veio, o que faz da vida e nem ao menos sei seu nome. A única coisa que sei a seu respeito é que ela deve morar perto do cemitério, pois é sempre lá que ela pedia com gestos para eu deixá-la. Cada vez que ela partia eu sentia a curiosidade ferver em minha ânsia criando fantasias deturpadas de hipóteses improváveis. Era uma louca? Morava com pessoas estranhas que não a deixavam se relacionar com mais ninguém? Era uma foragida da policia? Não gostava nem de pensar nessas possibilidades. Por isso precisava saber mais a respeito desta moça. E foi o que fiz. Um dia, após estacionar o carro atrás do cemitério e a vê-la partir dobrando a esquina a segui furtivamente sendo ofuscado pelas sombras das árvores altas, sombras que nem as luzes da iluminação pública e dos prédios ao redor se atreviam a penetrar. Ela caminhava devagar ao lado do cemitério e da distância que nos afastava não dava para ouvir seus passos, era como se flutuasse. A vi dobrar na esquina e entrar no cemitério. O portão estava aberto e também entrei. Mas a perdi de vista por algum tempo. Olhei por cima de todas as sepulturas ao meu redor e nada da estranha moça. Até que vi uma luz mórbida vinda de longe. Fui em direção a ela. Já não me importava em ser furtivo, por isso andei normalmente até tropeçar em algo que ao olhar com mais atenção notei tratar-se de uma mão já em bastante estado de decomposição. Ao meu lado vi uma tumba aberta com bastante areia pelos lados, como se alguém tivesse cavado. Mas não vi pá alguma. Aquilo me gelou os ossos e pensei em sair correndo antes que o maníaco aparecesse para dar fim a única testemunha de seus atos ilícitos. Mas não poderia ir embora sem antes saber onde estava a moça e o que era aquela luz estranha. Andei em direção a luz até chegar a uma área com bastante mato onde as sepulturas mais antigas permanecem como uma lembrança esquecida. Lá estava ela de cócoras em frente a uma grande sepultura com uma foto. E a pessoa na foto era ela! Já sentia minhas pernas tremerem, mas a curiosidade sempre falou mais alto pra mim. Aproximei-me da moça. Ela comia algo. Parecia um macaco agachado comendo frutos. Mas pelo liquido viscoso que escorria por seus braços só poderia ser uma coisa... Ela, percebendo minha presença olhou para trás, seus olhos eram pontos pretos ou haviam simplesmente afundando na escuridão. Sua boca suja de sangue exibia dentes pontudos como os de uma carranca. Vi um pedaço de carne que juro ser a ponta de um dedo cair de sua língua, agora grande e fina como de uma víbora. Em suas mãos encontrava-se o resto de um braço que ela havia devorado. Vi um corpo logo atrás que deveria ser o do defunto que estava enterrado naquela tumba violada. Ela rugiu para mim, eu me afastei e fiz o sinal da cruz. Ela sumiu no ar gritando, um som gutural, bestial, nunca antes ouvido por qualquer outro mortal e que apenas um louco que já caminhou nas profundezas do inferno em seus delírios esquizofrênicos poderia descrever com precisão. Um grito de ódio ou um pedido de misericórdia que ecoará para sempre em meus pesadelos.

sábado, setembro 05, 2009

O Navio Pirata-Conto

Para comemorar o lançamento da antologia Sinistro! aí vai um mini-conto, sem muitas pretensões, mas divertido de ler, ao menos pra matar o tempo.
O NAVIO PIRATA

O arraial chegou na praça da igreja com muita festa e crianças ansiosas para subir nos brinquedos coloridos e cheios de luzes que giravam quando estavam ligados. O arraial é a atração mais esperada pelas crianças. Os pais enlouquecem correndo atrás dos pequenos. Um deles entrou no Navio Pirata que estava prestes a ser ligado. Ele foi rápido, nem o funcionário responsável pelo brinquedo viu, entrou no navio de cores vivas e se escondeu atrás de um casal de namorados. Sua mãe gritava chamando seu nome, “André”, olhava por todos os lados, estava começando a ficar nervosa. O brinquedo ligou. Primeiro ia e voltava devagar, até que começou a acelerar. “Uhul!”, gritavam as pessoas que estavam dentro. O pequeno André permaneceu escondido. “André!”, gritou mais alto a mãe já desesperada. “Onde você se meteu!”. Na proa do Navio o esqueleto de um marujo pendurado como numa cruz sorria de forma diabólica, seus olhos brilharam num vermelho escuro e o brinquedo alcançou a velocidade máxima. O navio começou a tremer, faíscas saiam de várias partes. Os gritos de diversão se transformaram em gritos de horror. O funcionário tentou parar a máquina, mas era tarde, ela já soltara muitos parafusos. O navio fez um movimento brusco para frente destruindo um carrinho de pipoca. Todos ao redor correram gritando. O navio andou mais uns vinte metros até bater no Trem Fantasma. Em poucos minutos os bombeiros chegaram junto com a polícia. Felizmente ninguém se feriu gravemente. Mas antes que todos pudessem se recuperar do susto, um dos bombeiros encontrou o corpo de um menino, já em bastante estado de decomposição, escondido bem atrás do último banco, quase impossível de se ver a olho nu. Segundo a policia tratava-se de André, um garoto que havia desaparecido no último arraial e nunca foi encontrado. Dizem que ele sofria de problemas cardíacos e era proibido de entrar em um brinquedo perigoso como aquele. E a família do garoto? Indagaram alguns. A mãe não agüentou a ausência do filho e se matou alguns meses após o desaparecimento do menor. Ela ingeriu veneno para rato. O corpo do menino foi levado para ter um enterro digno e a mãe já se encontrava calma, sorrindo. Com a brisa da noite ela se foi, desaparecendo no ar.

Sinistro! Contos de Terror


Depois de muito esforço e dedicação (e muitos nãos subentendidos) estou conseguindo tocar pra frente minha carreira de escritor. Em breve a Editora Multifoco (http://www.editoramultifoco.com.br/) lançará meu livro Fuga da Sanidade de contos fantasticos. E para começar um conto meu (que nao está no meu livro) foi publicado na antologia Sinistro! de contos de terror da mesma editora. São 22 histórias assustadoras pra deixar as pessoas mais sensiveis sem dormir.

O livro é uma boa dica pra quem gosta do gênero.
Se quiser adquirir um entrem em contato comigo pelo email rodrigocarvalho84@hotmail.com , ou me precure pessoalmente. O preço é de apenas R$ 25,00. De graça só o autógrafo! rsrs