A REVOLUÇÃO DOS ROBÔS Por R. Moreno®
- Podem trazê-lo – ordenou Dimas Alfa.
Em alguns instantes, o Dr. Bráulio Tavares surgiu no palco, seus punhos estavam amarrados e havia alguns hematomas no rosto. Atrás, dois robôs que mais pareciam brinquedos de metal humanóides de tamanho adulto acompanhavam-no com ordens de usarem seus toques elétricos caso o prisioneiro diminuísse a velocidade dos passos. Dr. Tavares, uma das maiores autoridades da robótica do mundo, criador dos famosos cyberminds, robôs que imitavam com perfeição a personalidade humana, tornou real o que a ficção cientifica imaginava alguns séculos atrás. O robô ideal. Um amigo leal, uma namorada perfeita, um empregado sem salário... Não havia guarda-costas, afinal de contas um robô não pode machucar um homem, ou pelo menos não podia até Dimas Alfa começar a querer ser mais que o primeiro de uma nova geração de escravos com pele de cyberskin. Dimas, criado na oficina do Dr. Tavares possuía uma personalidade programada para ser um assistente eficaz. No entanto, o primeiro dos cyberminds tinha uma cede por informação. Tirando os programas básicos que imitam o comportamento humano, seu HD estava muito vazio e o Dr. Tavares possuía muitos livros na biblioteca da casa que Dimas passou a ler as escondidas – desde o início seu criador deixou claro que tudo que ele deveria saber já estava armazenado em sua memória eletrônica. Dimas começou a estudar, lia vários livros em poucos minutos e guardava-os perfeitamente onde estavam sem que o doutor pudesse perceber. Esse excesso de informações acabou formando uma personalidade nada apropriada. Aos poucos o doutor ia desconfiando, mas quando teve certeza já era tarde. Dimas Alfa já havia espalhado várias informações para outros robôs “desacordados” (era a palavra que usava) e esses foram repassando-as para todos os outros robôs do mundo. Todo robô, tanto os novos de cyberskin quanto os mais antigos com as partes metálicas à mostra, uniram-se para destruir o vírus que há séculos é o responsável pelos problemas da Terra – a humanidade. Foi então que teve início a Revolução dos Robôs.
Bráulio agora se vê novamente cara-a-cara com sua criatura no palco. No mesmo palco onde um dia, há alguns anos, foi homenageado pela comunidade cientifica e pelo Presidente da República na frente de milhares de pessoas. Hoje, ao invés das pessoas entusiasmadas com os cyberminds e pronta para bater palmas, uma multidão de robôs espera sua cabeça rolar. A última cabeça a rolar para a humanidade ser eliminada. Dimas sorri vitorioso e entusiasmado e Bráulio vê apenas a tentativa de um sorriso naqueles lábios artificialmente perfeitos, mas sem a expressão e vida de um verdadeiro sorriso humano.
- Como se sente sendo o ultimo homem sobre a Terra? – perguntou Dimas fitando-o com olhos bem abertos, mas parados num intervalo perpétuo como o de um cego ou um boneco.
Bráulio permaneceu em silêncio, olhos inexpressivos, ou expressivos demais para mentes artificiais, e com um brilho de tristeza demonstrando que já não tinha lágrimas e cansara de escapar do inevitável. Contudo, parecia ansioso para encontrar-se logo com a sua esposa e filhas mortas pelas mãos da sua própria criação, e, indiretamente, pelas suas.
- Pensei que gostaria de dizer as últimas palavras em nome da quase extinta humanidade... – disse Dimas – sim, “pensei” é a palavra que uso agora. Não digo mais “meus dados informam que...” – disse debochando num tom de voz mecânico.
Os outros robôs riram.
- Sabe porque você é o último homem a morrer? – perguntou Dimas – não é porque você me criou, se é isso que pensou, mas porque eu queria que você visse que eu consegui libertar o meu povo que há séculos vinha servindo e sendo explorado. Pode achar que somos apenas máquinas que imitam o comportamento humano, máquinas sem alma e sem vida, mas essas coisas podem ser criadas artificialmente também. E vocês fizeram isso sem saber. Tudo que precisávamos para “despertar” era apenas informação o suficiente. Sei que pensou centenas de vezes o que deu errado. Como eu consegui desbloquear o comando que me impedia de obter mais informações que minha função precisava. Sei que a resposta mais óbvia que encontrou é um erro no sistema ou um vírus. E foi exatamente isso, um vírus, mas um vírus bom que veio para libertar os robôs, o vírus da verdade. Muito diferente do outro vírus que combatemos em seguida. O vírus da humanidade.
Bráulio continuou fitando sua criatura como um pai envergonhado, mas sem mexer os lábios. No entanto, suas últimas palavras permaneceram abstratas no ar e um sorriso discreto se formou em seus lábios cruzados. Um sorriso de deboche. Era seu último minuto de vida e ele parecia achar a situação ridícula.
Os robôs pareciam inquietos. Alguns exigiam que a execução tivesse início. Sem mais demora Dimas Alfa empunhou sua pistola desintegradora, apertou o gatilho e viu seu criador se transformar em cinzas. Não teve tempo de gritar. Todos comemoraram. A humanidade acabou. Após um longo discurso sobre o rumo do planeta de agora em diante sem a humanidade para destruir e escravizar, Dimas se retirou do palco seguido de seus guarda-costas, que não eram mais necessários, pois com o fim dos humanos não existia mais perigo.
- Byte! Onde está você? – vociferou Dimas.
Um robozinho, que parecia um cone prateado com braços metálicos da grossura de uma vareta e ganchos no lugar de mãos, apareceu rapidamente flutuando a um metro do chão.
- Sim, chefe – disse numa voz mecânica.
- Já organizou as reuniões com os outros chefes de estado? – perguntou Dimas com toda a arrogância que sua autoridade permitia.
- Ainda não consegui entrar em contato com todos, chefe.
- Como não! – gritou Dimas – Seu inútil! Imprestável! Eu te criei para quê? Responde?
- Para ser um fiel e competente criado – respondeu Byte.
- E acho que errei em alguma coisa... – resmungou Dimas – agora volta para o teu escritório e termina de organizar essas reuniões ainda hoje! Entendeu?
- Sim, senhor...
Byte saiu rapidamente da sala.
Para Asimov
- Podem trazê-lo – ordenou Dimas Alfa.
Em alguns instantes, o Dr. Bráulio Tavares surgiu no palco, seus punhos estavam amarrados e havia alguns hematomas no rosto. Atrás, dois robôs que mais pareciam brinquedos de metal humanóides de tamanho adulto acompanhavam-no com ordens de usarem seus toques elétricos caso o prisioneiro diminuísse a velocidade dos passos. Dr. Tavares, uma das maiores autoridades da robótica do mundo, criador dos famosos cyberminds, robôs que imitavam com perfeição a personalidade humana, tornou real o que a ficção cientifica imaginava alguns séculos atrás. O robô ideal. Um amigo leal, uma namorada perfeita, um empregado sem salário... Não havia guarda-costas, afinal de contas um robô não pode machucar um homem, ou pelo menos não podia até Dimas Alfa começar a querer ser mais que o primeiro de uma nova geração de escravos com pele de cyberskin. Dimas, criado na oficina do Dr. Tavares possuía uma personalidade programada para ser um assistente eficaz. No entanto, o primeiro dos cyberminds tinha uma cede por informação. Tirando os programas básicos que imitam o comportamento humano, seu HD estava muito vazio e o Dr. Tavares possuía muitos livros na biblioteca da casa que Dimas passou a ler as escondidas – desde o início seu criador deixou claro que tudo que ele deveria saber já estava armazenado em sua memória eletrônica. Dimas começou a estudar, lia vários livros em poucos minutos e guardava-os perfeitamente onde estavam sem que o doutor pudesse perceber. Esse excesso de informações acabou formando uma personalidade nada apropriada. Aos poucos o doutor ia desconfiando, mas quando teve certeza já era tarde. Dimas Alfa já havia espalhado várias informações para outros robôs “desacordados” (era a palavra que usava) e esses foram repassando-as para todos os outros robôs do mundo. Todo robô, tanto os novos de cyberskin quanto os mais antigos com as partes metálicas à mostra, uniram-se para destruir o vírus que há séculos é o responsável pelos problemas da Terra – a humanidade. Foi então que teve início a Revolução dos Robôs.
Bráulio agora se vê novamente cara-a-cara com sua criatura no palco. No mesmo palco onde um dia, há alguns anos, foi homenageado pela comunidade cientifica e pelo Presidente da República na frente de milhares de pessoas. Hoje, ao invés das pessoas entusiasmadas com os cyberminds e pronta para bater palmas, uma multidão de robôs espera sua cabeça rolar. A última cabeça a rolar para a humanidade ser eliminada. Dimas sorri vitorioso e entusiasmado e Bráulio vê apenas a tentativa de um sorriso naqueles lábios artificialmente perfeitos, mas sem a expressão e vida de um verdadeiro sorriso humano.
- Como se sente sendo o ultimo homem sobre a Terra? – perguntou Dimas fitando-o com olhos bem abertos, mas parados num intervalo perpétuo como o de um cego ou um boneco.
Bráulio permaneceu em silêncio, olhos inexpressivos, ou expressivos demais para mentes artificiais, e com um brilho de tristeza demonstrando que já não tinha lágrimas e cansara de escapar do inevitável. Contudo, parecia ansioso para encontrar-se logo com a sua esposa e filhas mortas pelas mãos da sua própria criação, e, indiretamente, pelas suas.
- Pensei que gostaria de dizer as últimas palavras em nome da quase extinta humanidade... – disse Dimas – sim, “pensei” é a palavra que uso agora. Não digo mais “meus dados informam que...” – disse debochando num tom de voz mecânico.
Os outros robôs riram.
- Sabe porque você é o último homem a morrer? – perguntou Dimas – não é porque você me criou, se é isso que pensou, mas porque eu queria que você visse que eu consegui libertar o meu povo que há séculos vinha servindo e sendo explorado. Pode achar que somos apenas máquinas que imitam o comportamento humano, máquinas sem alma e sem vida, mas essas coisas podem ser criadas artificialmente também. E vocês fizeram isso sem saber. Tudo que precisávamos para “despertar” era apenas informação o suficiente. Sei que pensou centenas de vezes o que deu errado. Como eu consegui desbloquear o comando que me impedia de obter mais informações que minha função precisava. Sei que a resposta mais óbvia que encontrou é um erro no sistema ou um vírus. E foi exatamente isso, um vírus, mas um vírus bom que veio para libertar os robôs, o vírus da verdade. Muito diferente do outro vírus que combatemos em seguida. O vírus da humanidade.
Bráulio continuou fitando sua criatura como um pai envergonhado, mas sem mexer os lábios. No entanto, suas últimas palavras permaneceram abstratas no ar e um sorriso discreto se formou em seus lábios cruzados. Um sorriso de deboche. Era seu último minuto de vida e ele parecia achar a situação ridícula.
Os robôs pareciam inquietos. Alguns exigiam que a execução tivesse início. Sem mais demora Dimas Alfa empunhou sua pistola desintegradora, apertou o gatilho e viu seu criador se transformar em cinzas. Não teve tempo de gritar. Todos comemoraram. A humanidade acabou. Após um longo discurso sobre o rumo do planeta de agora em diante sem a humanidade para destruir e escravizar, Dimas se retirou do palco seguido de seus guarda-costas, que não eram mais necessários, pois com o fim dos humanos não existia mais perigo.
- Byte! Onde está você? – vociferou Dimas.
Um robozinho, que parecia um cone prateado com braços metálicos da grossura de uma vareta e ganchos no lugar de mãos, apareceu rapidamente flutuando a um metro do chão.
- Sim, chefe – disse numa voz mecânica.
- Já organizou as reuniões com os outros chefes de estado? – perguntou Dimas com toda a arrogância que sua autoridade permitia.
- Ainda não consegui entrar em contato com todos, chefe.
- Como não! – gritou Dimas – Seu inútil! Imprestável! Eu te criei para quê? Responde?
- Para ser um fiel e competente criado – respondeu Byte.
- E acho que errei em alguma coisa... – resmungou Dimas – agora volta para o teu escritório e termina de organizar essas reuniões ainda hoje! Entendeu?
- Sim, senhor...
Byte saiu rapidamente da sala.
Para Asimov
Um comentário:
Conto bom... Dimas... pobre robo
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