sábado, setembro 08, 2007

UM EXEMPLO DE SUCESSO - Conto

Poucas pessoas no mundo possuem tanta determinação e sorte como Marta, uma pessoa cheia de virtudes e disposta a ajudar a todos. Porém, ela está prestes a descobrir sua verdadeira natureza na Fuga da Sanidade.


UM EXEMPLO DE SUCESSO Por Rodrigo Moreno®


Existem pessoas que realmente nasceram com o Universo como criado. Como grande exemplo podemos citar Marta, uma mulher que nasceu pra bilhar, como definem alguns e sem dúvida que não estão errados, pois essa grande executiva tem uma vida de dar inveja a muitos. Filha única de um grande empresário, Marta sempre teve todas as oportunidades que o mundo e o dinheiro poderia oferecer. Estudou em uma das escolas mais conceituadas (e mais caras!) da cidade. Desde os cinco anos tinha aulas particulares de piano, balé e inglês, tornando-se prodigiosa em todas essas três áreas. Apesar de poder escolher ser uma bailarina de sucesso ou uma grande pianista, Marta optou pela faculdade de Administração e aos vinte e cinco anos terminara de concluir seu Mestrado nos Estados Unidos. Marta sempre fora uma pessoa muito inteligente e apesar dos “mimos” dos pais, sempre buscara independência.

Todos que a conheceram se surpreendiam com sua fabulosa inteligência e grande carisma. Todos a amavam e queriam ser seus amigos, ela, amável por natureza, retribuía toda a admiração das pessoas com toda a atenção, ternura e complacência que lhe era capaz. Sempre sorrindo com o mais belo sorriso que despertava ainda mais o afeto de alguns o os sentimentos secretos e puros de alguns admiradores apaixonados. Era comum que uma mulher como ela tivesse tantos pretendentes, pois, além de bonita, determinada e inteligente, aquele sorriso perfeito expressava toda a franqueza de sua alma abençoada. Era a mulher perfeita para todos.

Entretanto, para a tristeza de muitos, após voltar do exterior e assumir o cargo de vice-presidenta da grande organização do pai, Marta começou um relacionamento sério com Cristóvão, um advogado exemplar e bem-sucedido e também cercado de muitas admiradoras. Aos dois anos juntos casaram-se e tiveram um casal de filhos gêmeos. Não se sabe se a inteligência dos filhos veio do pai a da mãe, mas isso não importa, pois Marta se orgulhara muito dos seus pequenos herdeiros. Thomaz, apesar de um pouco levado, o que era comum na sua idade, era o melhor aluno da turma e desde aquela idade já demonstrava um precoce espírito de liderança, o que provavelmente o tornaria presidente da organização do avô um dia. Natália tinha puxado o lado artístico da mãe e demonstrava um grande talento pro canto, piano e balé.

Marta tinha a vida que todas as mulheres sonharam ter, e apesar de todo o esforço que teve, sabia que não seria preciso tanto, pois o Universo conspirava a seu favor. Mas como nada pode ser perfeito, uma coisa a incomodava: falta de tempo livre. Ela já se acostumara a trabalhar bastante, mas às vezes tinha aquela breve sensação de que sua vida se resumira a isto. Ela sempre arranjava tempo para se dedicar à família, mas no fundo queria um pouco de tempo sozinha, para fugir um pouco da rotina cansativa e quem sabe ler um romance ou assistir um filme sozinha.

Cristóvão percebeu a inquietação da esposa e após concluir que Marta ansiava (e precisava) passar um tempo sozinha propôs levar os filhos para passar o fim-de-semana na fazenda dos avôs paternos. As crianças adoraram a idéia, pois já fazia um bom tempo que não iam lá e Marta adorou mais ainda. Então eles foram sábado pela manhã. Marta também deu uma folga para os empregados que trabalhavam aos domingos e encontrava-se completamente só e livre dentro daquela casa grande. Passou a manhã de domingo tocando piano como não fazia há meses, depois leu o jornal, conversou com algumas amigas pela Internet, leu algumas revistas femininas e fez seu próprio almoço. Pensou em pedir uma pizza, mas, como não cozinhava há muito tempo, decidiu por em prática seus conhecimentos de dona de casa e ver se ainda lhe restara algum.

Após o almoço debruçou-se na cama e ligou o grande televisor de tela plana. Mesmo com os diversos canais de TV á cabo, nenhum parecia lhe interessar, por isso ignorou, musicais, filmes antigos e desenhos animados e quando estava preste a desligar e ir dormir viu o parecia ser um documentário sobre moradores de rua. Porém, percebeu que não havia repórter algum e tão pouco um narrador. Tudo que via era um bairro imundo através da câmera, onde mendigos se agrupavam perto de valas e lixões em becos imundos. Aquela visão repugnante a angustiava e só de pensar na condição de vida daquelas pessoas sentia seus pelos se arrepiarem e uma efêmera ânsia de vômito pairava sobre sua cabeça. Entretanto, aquela programação, apesar de repulsiva, despertara sua curiosidade a respeito daquelas pessoas. Será que elas nunca foram alguém na vida? Será que apesar delas serem um grande exemplo de fracasso e falta de oportunidades isso também não as torna um exemplo de sobrevivência?

Marta se compadecia com pessoas que carregavam na vida o fardo da extrema pobreza. Apesar de seu pai nunca ter tido um espírito muito filantrópico, preocupando-se apenas em ajudar as pessoas carentes em projetos de responsabilidade social, Marta não puxara esse egoísmo e individualismo. Graças a ela, muitos outros projetos filantropos (que para seu pai deveriam ser chamados de responsabilidade social) tiveram sucesso e graças a ela muitas crianças com a idade de seus filhos e que mal sabiam ler e escrever e todos os dias dormiam de barriga vazia, hoje têm quatro refeições por dia, estudam nas escolas financiadas pela organização e dormem em camas macias. Muitos moradores de rua também são agraciados com o espírito humanitário de Marta que lhes dá de comer em todas as datas festivas como o Natal e a Páscoa. Sem dúvida que Marta já recebeu muitas propostas para entrar para a política, mas nunca quis se envolver com a sociedade dessa maneira, optando por ajudar apenas do seu jeito, levando o nome e a marca da organização de seu pai para uma das empresas mais humanitárias do país.

Mesmo com toda essa complacência pelo sofrimento daquelas pessoas, a educação nobre de Marta não poderia deixar de sentir uma grande repulsa pelo trauma causado pela injustiça da sociedade, que estava expresso na aparência suja e fétida daqueles mendigos e agradece quando a câmera olha para os lados e sai daquele beco imundo. Ela começa a cambalear como se o cameraman estivesse bêbado. Aproxima-se de um homem bem vestido com um terno não tão caro e empunhando uma mala preta na calçada esperando o sinal fechar. Ele olha para a câmera e com os mesmos olhos de desdém que via em seu pai quando algum morador de rua se aproximava para pedir dinheiro, diz “Quer dinheiro? Vai procurar o que fazê?”. Nesse instante o sinal se abre e ele atravessa a faixa apressado. A câmera então muda de rumo e passeia pela calçada ainda cambaleando. Duas jovens moças segurando cadernos e livros vêm na outra direção conversando. Uma delas reclama de um odor insuportável ao redor. Ao olhar para frente vê a câmera e puxa a amiga para o lado afastando-se com uma expressão no rosto de repulsa e um pouco de medo. A câmera continua seguindo pela calçada até ser surpreendida por uma garotinha que oferece alguns trocados ao cameraman. Este pega e Marta percebe que sua mão suja é fina coma a de uma mulher. “Isso é pra senhora.”, diz a garotinha entregando o dinheiro. Em seguida vai ao encontro da mãe no outro lado da rua e leva uma grande repreendida da mesma. Marta pode ouvir de longe a mãe brigando com a filha e mandando ela nunca mais se afastar dela e nem falar com estranhos. A câmera dá mais algumas voltas e desce até um grande lixão perto de um bairro humilde onde outros moradores de rua se esforçam para encontrar um pouco de comida estragada para enganar a fome. Um deles olha para a câmera e sorri com dentes amarelados e corroído por cáries. Seu rosto parece familiar. “Olhem pessoal! Ela voltou! Hehehe!”. “Marta! Pensei que estivesse morta!”, diz outra moradora de rua, uma senhora gorda e negra. “Chegou na hora certa! Tem muito lixo bom hoje!”, disse sorrindo o morador que a reconhecera. Seu nome era Chico e a senhora eles chamavam de Velha. Também estavam presentes Zé, Espirro, Urubu, e todos os outros mendigos locais, alguns até sem nome ou apelido definido. Marta gradualmente vai sentindo a falta do conforto da sua cama de casal e do ar-condicionado e percebe que está usando como vestimenta trapos velhos e um par de sandálias velhas diferentes uma da outra. Sente o suor insuportável do meio-dia, mas ela parece já estar acostumada e sente um fedor nauseante exalando da sua pele mal cuidada, suja e cheia de feridas causada pro mosquitos. “Isso não pode ser real”, pensa ela, “O que eu estou fazendo aqui?!”, grita ela apavorada, “Onde está minha casa enorme, minha TV de tela plana e todo o conforto que eu tenho direito?!”. “Lá vem ela com esse papo de novo!Hehehe”, diz o Chico e os outros mendigos começam a gargalhar. “Por que vocês ousam rir de mim?! Depois de tudo que eu fiz pra vocês! É assim que me agradecem?! Pois saibam que eu sou muito rica! Meu pai é...”, antes que pudesse concluir sua frase a Velha a interrompe concluindo para ela “ Um grande empresário! Você sempre diz isso quando toma um porre!Ahahaha”, “Certo Senhora Grande Executiva, o que vai trazer pare esses pobres famintos nesse natal? Um peru assado? Ou seria um urubu assado? Hahaha”, diz Espirro sarcasticamente. “Não, vocês não entendem! Eu sou mesmo uma grande executiva! Sou casado com um ADEVOGADO muito rico também e tenho dois fio bunito!Eu falo inglês, toco piano, sou bailarina...”

Marta tentava convencer os outros mendigos que seus delírios causados pela fome e pela cachaça barata eram reais ao mesmo tempo em que tentava inutilmente acordar daquele pesadelo que se tornava cada vez mais real à medida que o efeito do álcool se esvaía e a barriga voltava a mendigar um prato de comida. Os outros mendigos apenas riam mais uma vez daquela moradora de rua que sonhava ser uma rainha.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Conto - HERÓI ?

Leo é um adolescente diferente. Ele tem a habilidade de prever futuros trágicos. Entretanto, não pode fazer nada para mudar o futuro e só lhe resta lamentar o fim trágico das vítimas. Porém, ao prever o assassinato de uma pessoa conhecida decide salvá-la, mas descobrirá que isso não será fácil na Fuga da Sanidade.

HERÓI ? Por Rodrigo Moreno®

“Meu filho! Eu já disse que não tem ninguém lá!”, gritou a mãe de Leo, sua voz já estava ficando rouca e sua paciência estava se esvaindo. “Calma querida... ta tudo bem...”, consolou o pai. À frente de Leo, o garoto loiro com cerca de 7 anos continuava gritando pedindo socorro. “Eu tenho que ajudá-lo! Alguma coisa vai acontecer ou já deve estar acontecendo! Esse menino precisa de mim!”, insistiu Leo. Entretanto, a sua frente os seus pais só viam a cama desarrumada do filho e alguns pôsteres de bandas de rock na parede.

Sua mãe, com os olhos vermelhos e lagrimando, fitou-o mais uma vez, com um olhar que expressava compaixão e decepção, antes de deitar o rosto no ombro do marido que a consolava. “O Leo enlouqueceu... oh, meu Deus...!”, sussurrou ela. Leo continuava apavorado, mas não ignorava o olhar esquisito de seus pais observando-o como se fosse algum doente em estado terminal. Ele gostaria muito que sua mãe estivesse certa. Gostaria muito de estar realmente louco, mas pelas poucas experiências que teve com precognição tem certeza de que tudo que prever irá se concretizar uma hora ou outra.

Infelizmente nunca previu coisas boas como o resultado da loto ou questões de provas. Suas previsões sempre se limitaram a terríveis tragédias, como acidentes e assassinatos. Nunca de pessoas conhecidas. Mesmo assim, sentia-se na obrigação de tentar evitar. Entretanto, era só um garoto de 16 anos que ainda dava satisfação aos pais e não poderia sair por aí bancando um vigilante como nas revistas em quadrinhos. Além disso, é magro e não é um exímio lutador. Chamar a polícia também estava fora de cogitação. Que policial em sã consciência acreditaria em tal absurdo, ainda mais vindo de um garoto como ele? Aliás, quem acreditaria? Nem seus próprios pais acreditavam! Depois de terem visto o filho jurar que um garotinho gritava pedindo socorro o levaram num psicólogo em seguida num psiquiatra e depois ele passou uns dias numa clínica psiquiátrica.

Mas suas visões continuavam, só que ele aprendeu a disfarçar mais para enganar os pais e os médicos e poder voltar para casa. Teve êxito em seu plano, mas mesmo assim o peso da responsabilidade de seu poder paranormal pairava sobre suas costas. Sentia-se em dívida com a humanidade por não poder evitar as tragédias e lamentava como um médico quando perde um paciente. Quantas famílias já sofreram só por ele ser um garoto totalmente dependente? O que significava aquele dom se ele não poderia usar? Tudo que poderia fazer era se desculpar em pensamento com as vítimas na esperança quase perdida de que elas o ouvissem.

A angústia causada pela sua crise “pseudo-heróica” chegou no ápice quando na última noite seus sonhos lhe trouxeram mais uma visão trágica do futuro. Uma garota, com mais ou menos a sua idade, gritava desesperada pedindo socorro. Seus olhos expressavam o medo e a agonia da alma que se traduzia em lágrimas que deslizavam pelo rosto coberto de hematomas. Ela fitava o rosto do carrasco pedindo misericórdia. Uma negociação silenciosa pela vida era feita desesperadamente naquele momento. Mas o objetivo dele não era negociar. Não dava para ver sua fisionomia. Apenas a sombra projetava na parede denunciava um homem. Suas mãos agarraram o pescoço frágil dela que tentava lutar inutilmente. Lutou até suas forças se esvaírem e se entregar à morte iminente. Nada que Leo não tinha visto antes em outras visões, com outras moças, mas dessa vez ele conhecia a vítima. Seu nome era Anna e morava há alguns quarteirões de distância da sua casa. Suas mães se davam muito bem, porém eles só conversaram três vezes. Duas na igreja e uma quando se encontraram no ônibus. “Ela é uma garota legal, tem planos... ela não deve morrer...”, pensa Leo “Acho que dessa vez eu consigo evitar! Eu a conheço, então se ficar mais íntimo posso ajudá-la!”, dessa vez já falava seus pensamentos em voz baixa olhando-se no espelho do banheiro como se dialogasse com seu reflexo.

No dia seguinte encontrou-a indo para a parada de ônibus pela manhã. Era época de chuva. O dia estava frio e as nuvens anunciavam a próxima chuva que começava com um simples chuvisco. Ela segurava os cadernos e apressava os passos para não se molhar. Ele por sorte, não esquecera o guarda-chuva como da última vez e apressou também os passos para chegar até ela e oferecer uma carona. Ela, sorrindo gentilmente, aceitou. “Obrigada! Se eu molhar esses livros meu pai me mata!”, agradeceu em tom de brincadeira. “Então eu sou o seu salvador!”, disse Leo brincando também, “Ahahah. Talvez...”.

Foram conversando até a parada e por sorte pegaram o mesmo ônibus. Em cerca de alguns minutos já conversavam sem tantas formalidades como se fossem grandes amigos de infância. Compararam gostos em comum e contaram historias pessoais. Quando a parada onde Anna desceria estava próxima ela se levantou e eles marcaram de pegar o mesmo ônibus no dia seguinte. Uma semana depois viajando juntos, decidiram ir ao cinema. Foi então que começaram a sair. Cerca de um mês já estavam no inicio de um relacionamento amoroso.

Suas famílias aprovavam, pois, para eles, tanto Leo quanto Anna eram “Bons partidos!”. O que eles não imaginavam é que duraria tanto. Terminaram o colegial e entraram na faculdade juntos. Raramente brigavam e estava claro que a probabilidade de continuar no casamento era maior do que de terminarem. Ele se formou como psicólogo e ela dentista. Foram viver juntos e depois dela engravidar decidiram alegrar os parentes com o tão sonhado casamento. Leo se orgulhava da esposa, pois mesmo com 25 anos ela mantinha a aparência daquela garota de 16 que ele dera uma carona no seu guarda-chuva.

Enquanto as suas visões... ele quase não as tinha. Mas não se importava mais com isso. Tudo que queria era ser feliz. Mais feliz do que já era. Claro que nem tudo foi uma grande felicidade como ele imaginara. Ainda tinha o assassino de Anna que deveria ser combatido. Leo atenciosamente observava os ex-namorados e alguns amigos que ele não gostava. Fazia o possível para não parecer ciumento.

Quando eles estavam com um ano de namoro. Leo foi à casa de Anna como prometera. Não haviam marcado nada antes. Ele apenas recebeu um telefonema dela pedindo para que ele passasse lá porque estava só e com medo. Não medo de alguém específico segundo ela, “Apenas medo de ficar sozinha...”, disse ela calmamente ao telefone. “Talvez ela esteja afim de ver um filme ou fazer sexo. Ou os dois!”, pensou Leo. Arrumou-se bem e se apressou ansioso porque “Essa noite promete!”, disse ele sorrindo satisfeito enquanto penteava o cabelo se olhando no espelho. Mas sua opinião mudou e sua felicidade e ânsia transformaram-se em medo e preocupação quando chegou na frente da casa dela e encontrou a porta entreaberta. Ela estava gritando com alguém. “Não, eu não quero! Me deixa em paz! Eu juro que chamo a polícia!”, gritava ela. “Não vai demorar nada... mas se não quiser eu te mato agora!”, respondeu uma voz masculina e furiosa. “Você vai ser minha essa noite!”.

Leo não se conteve e correu pra dentro da casa. Ao entrar viu as costas de um homem com cerca de 1,80. Na frente dele se encontrava Anna com uma expressão de medo no rosto, afastando-se a passos lentos, mas pronta para correr se fosse necessário. Eles não perceberam a entrada de Leo. “Me deixe em paz!”, dizia Anna com uma voz trêmula e tentando gritar. Leo correu e pulou em cima do homem. “Te afasta dela!”. Uma briga entre eles dois foi travada. Não houve socos nem pontapés, apenas mediam forças tentando imobilizar um ao outro. Apesar do homem ser mais forte, Leo, movido pela raiva, demonstrou uma força que nem ele mesmo conhecia. Anna começou a gritar e em seguida chegaram os vizinhos e rederam o homem. Depois chamaram a polícia e os pais de Anna. Sua mãe não conteve o desespero e estapeou o rosto do homem várias vezes até ser impedida pelos policiais. Não por vingança, mas para repreendê-lo, pois na verdade ele era o seu irmão mais novo. Isso chocou a todos que ficaram sabendo que Anna era assediada sexualmente pelo tio há alguns anos. Leo ficou decepcionada por ela nunca ter comentado nada, mas não pediu nenhuma satisfação. O importante era que ele conseguiu salvá-la. Esse pesadelo ficou no passado eles estavam felizes esperando o primeiro filho.

Quando Ruan nasceu, Leo decidiu abrir sua própria clínica. Tiveram que fazer algumas despesas, mas antes do segundo aniversário do filho, já estavam bem estabilizados. Mudaram para uma casa melhor e maior. Dois carros do ano na garagem e aos três anos Ruan se preparava para estudar em um dos colégios mais caros e bem conceituados da cidade. Leo tinha tudo que queria e se sentia o homem mais sortudo do mundo. Vivia feliz e era bem visto pelos amigos. Sempre fora um homem de temperamento calmo, porém em uma festa de casamento de uma grande amiga de Anna, descobriu seu verdadeiro ponto fraco. Anna reencontrou um antigo namorado e eles ficaram conversando a noite inteira. Não que fosse ciúmes diria Leo, mas eles passaram a noite muito juntos e ela quase não deu atenção ao marido. No carro, Leo calmamente tentou conversar sobre esse ex-namorado. “Não vai dizer que tá com ciúmes?”, disse Anna em tom de brincadeira. “Claro que não... eu confio muito em você, mas bom... poderia ter me dado mais atenção. Tive que aturar aqueles sogros da sua amiga a noite toda.”, respondeu Leo disfarçando a seriedade no mesmo tom de brincadeira. As palavras foram perdendo a calma e em alguns minutos estavam prestes a ter uma grande discussão se não fosse por Leo se desculpar. Eles decidiram esquecer aquele desentendimento. Leo achava que poderia, mas estava enganado. Seu próprio conhecimento sobre a psique o enganou.

Depois daquele dia passou a fazer perguntas sobre os colegas de trabalho de Anna, quem era aquele amigo que lhe deixa em casa todas as sextas e por que ela conversava muito com o vizinho da frente. Aos poucos seu ciúme foi ter tornando gradativamente em um possível transtorno psicológico. Ele sabia disso, mas não conseguia controlar, pois no fundo tinha medo de que Anna o trocasse por alguém melhor. Isso arruinaria sua vida. Seu filho era muito novo para ver os pais se separarem e poderia ficar traumatizado ou ter outros problemas, até mesmo sociais! Leo não poderia deixar isso acontecer.

Desnecessário dizer que esse ciúme gerava grandes discussões entre o casal. Ruan, que já tinha 7 anos, observava tudo assustado. Anna já não agüentava mais aquele tormento e pediu para Leo procurar ajuda profissional. Ele sempre prometera que ia, mas nunca cumpria. Hoje ele lamenta muito isso, pois quando viu um homem saindo de sua casa quando chegava para o almoço não conteve o ciúme e entrou gritando com Anna pedindo satisfação. Ela disse que era apenas o encanador que havia chamado para consertar a pia. “Acha que eu vou acreditar nessa história sua vagabunda!”, gritou Leo e em seguida estapeou-a no rosto. Assustada ela tentou escapar, mas Leo a agarrou pela cintura e arremessou-a contra a parede. Em seguida socou-a várias vezes antes de suspendê-la pelo pescoço com as duas mãos. “Não!”, gritou Ruan que assistia tudo. “Socorro!”, continuo ele. Leo ignorou os gritos do filho e o monstro que se escondia atrás de seu rosto amigável e sorridente projetou-se aos olhos de Anna que perdia o ar sem entender o porque de todo aquele sofrimento. Eles eram tão felizes... Tinham um filho bonito, loiro como o pai. Ruan sempre fora uma criança alegre, mas agora gritava ao vê-la morrer. Por quê tudo isso? Inveja de terceiros que eram infelizes e desejavam pelos menos um terço de sua felicidade? Esses e outros pensamentos passavam rápidos por sua cabeça antes de perder a capacidade de raciocinar. Aos poucos Anna sentia seu fôlego chegar ao fim e a última cena que pôde ver foi o filho gritando a alguns metros atrás daquele par de olhos bestiais do homem que um dia ela pensou ser seu herói, mas agora era o carrasco.

Após o homicídio a besta desincorporou da consciência de Leo que foi despertado pelos gritos do filho. Ao olhar para ele lembrou a visão do garotinho que gritava pedindo para socorrê-lo. Também se lembrou do sonho premonitório que via Anna ser assassinada. Foi preso e internado num sanatório após provar sua condição mental. Ruan foi morar com os avós maternos e nunca mais foi uma criança normal. Entrou em depressão profunda.

Até hoje, Leo se culpa por tudo. Sempre quis ajudar as pessoas com suas visões achando ser um herói. Nunca imaginou que na verdade era o grande vilão, um monstro que deveria ficar preso para sempre, senão pelas grades físicas, mas pelas grades psíquicas da eterna culpa.

sábado, julho 14, 2007

Conto - INSÔNIA

Alex perdeu tudo para o pôquer, inclusive sua esposa. Decidiu então começar uma nova vida em outra cidade. Porém, ao parar num estranho hotel, tem a chance de ter sua antiga vida de volta. Mas ele descobrirá que às vezes a sorte pode ser uma grande ilusão na Fuga da Sanidade!


INSÔNIA Por Rodrigo Moreno®


Alex estava viajando na sua moto preta há quase dez horas e só fez duas paradas rápidas para lanchar e encher o tanque. A menos de uma semana, perdera tudo numa aposta: sua casa, emprego e principalmente Júlia (sua esposa, ou melhor, ex), que apesar de não tê-la colocado na aposta, ela, arrasada, prometeu nunca mais olhar pra cara daquele viciado em jogos. Alex pensou que ela estava blefando, mas após bater a porta do apartamento com tremenda violência, percebeu que nunca mais a veria. Júlia foi morar com os pais e se negava a atender seus telefonemas. Seu emprego também não estava na aposta, mas o Garcia – seu patrão – disse que estava cansado de ver Alex toda segunda estressado e deprimido por ter perdido alguma coisa. Isso estava influenciando diretamente no seu escritório, pois Alex não conseguia produzir nada naquele estado. O Garcia tentou ajudar como pôde, até pagou um psicólogo, mas não deu jeito, Alex estava perdido no mundo.
Pegou tudo que lhe restava, sua moto preta, algumas roupas e seguiu estrada adentro. A idéia é ir para uma outra cidade onde estejam precisando de algum contador com um básico conhecimento de informática. Poderia procurar na sua própria cidade mesmo, mas estava tão traumatizado com tudo que não queria mais morar lá. Tudo que quer agora é começar do zero, mesmo não fazendo idéia pra onde está indo.
Há alguns minutos atrás, Alex estava estressado e nervoso com todos esses problemas, mas agora seu velho amigo Johnny Cash acalma seus nervos com suas baladas no MP3. Cash também tem a ajuda das paisagens e do vento batendo na jaqueta de couro. Uma parte de seu coração pensa na sua antiga vida: Júlia, seu velho emprego, seus amigos de trabalho e até dos vizinhos do lado e de seus dois filhos pequenos que iam aos domingos brincar com seu poodle, Jéssica, que na verdade era de Julia e foi junto com a dona. Enfim, a saudade bate, mas “Você deve continuar adiante, Alex!” Diz seu inconsciente, ou talvez seja o orgulho...
Nuvens púrpuras preparam-se para receber o Sol, anunciando assim o fim de mais um dia. A moto acelera. Faltam apenas 100 m para a próxima cidade. Alex vai fazendo as contas mentalmente de quanto irá gastar nessa parada, e antes que pudesse terminar avista a placa de boas-vindas. Não gosta nenhum pouco da visão: cidade suja e cheia de botecos com vários caminhões estacionados. Crianças sujas de areia brincando com pneus velhos e carrinhos de plástico observam o estranho passar rápido na sua moto, deixando apenas uma nuvem de poeira seguindo-o como uma sombra.
Alex fica imaginando o hotel onde vai ficar, “Tomara que não tenha cobras no banheiro...”. Observa algumas pousadas, todas parecem iguais, até no preço. Qualquer uma servia, mas faz sua escolha definitiva quando vê um pequeno hotel de dois andares. 1001 Noites era o nome, que soou estranho para ele. Apesar da simples aparência, de fora parece ser bem confortável. “Parece que aqui o café da manhã deve ter mais opções do que um simples café com leite acompanhado de pão com manteiga ou ovo e queijo.”
Ao entrar se espanta ao ver o tamanho conforto que o estabelecimento possuía: sofás de boa qualidade, lustres, belos vasos decorando o ambiente, estranhos quadros surrealistas enfeitando as paredes e uma tv de tela plana de 50 polegadas onde um senhor sentando num luxuoso sofá assiste o campeonato brasileiro e do seu lado um outro senhor mais velho com cerca de 80 anos sentado numa cadeira de rodas lendo jornal. Na recepção, uma mulher bem vestida com pouco mais que 40 anos, está sendo atendida por um senhor com traços indígenas. Alex vai até o recepcionista. “Poderia me ver um quarto?”, pergunta Alex, “Sim, quando acabar de atender essa senhora.”, responde o senhor sem nenhuma expressão no rosto. “Não sabe esperar meu amigo!”, reclama a mulher. “Desculpa.”. Alex senta-se no sofá olhando para a tv. Está um pouco chateado e não está ligando pro campeonato. “Gosta de futebol rapaz?”, pergunta o senhor sentado no sofá ao lado. “Não muito...”, responde Alex. “Pois, eu adoro! Quando tinha uns vinte anos, meu sonho era ser um craque da seleção! Hehehe... jogava muito bem! Mas é assim mesmo... a idade vai chegando... vamos ficando sem forças! Hehehe... está vendo esse aí sentado na cadeira de rodas? Foi um dos maiores corredores do Brasil! Mas hoje não ganha nem de uma lesma. Então tudo que resta agora pro nosso amigo é ficar sentado esperando a Dona Morte bater na porta. Hehehe... todos vamos passar por isso, mas infelizmente pra mim, isso já está acontecendo.”. “Senhor!” , chama o recepcionista ainda sem muita expressão, “Já posso lhe atender!”. Alex se dirige até ele, mas é surpreendido pela mulher que havia reclamado, “Desculpe minha arrogância... Perdi meu esposo semana passada e não estou conseguido controlar meu humor.”, “Está tudo bem... eu entendo. Entendo muito bem. Meus pêsames.”, diz Alex. “Muito obrigada... não consigo passar um dia sem sonhar com ele...”. “Senhor!”, chama o recepcionista. “Acho que já estou atrapalhando...”, diz a mulher um pouco envergonhada. “Tá tudo bem!”, diz Alex pacientemente, “Me veja um quarto, por favor!”. “São R$ 20,00 a diária!”, diz o recepcionista. Após Alex pagar, o recepcionista lhe entrega a chave do quarto 207.
O quarto, apesar de pequeno, é bem confortável: uma cama de solteiro, um armário, ar-condicionado e uma tv de 14 polegadas. Além de uma sacada onde passa uma boa corrente de ar tornando o ar-condicionado quase que dispensável. Alex joga sua mochila de acampamento com suas poucas coisas no chão e se joga na cama afundando-se em seus pensamentos e, como sempre, refletindo sobre sua nova condição. Agora tudo que mais queria no mundo era voltar no tempo e mudar tudo. Não pela aposta, isso já não interessa mais, mas por seu emprego e principalmente por Júlia. Porém, se deprime ao voltar à realidade.
O cansaço torna seu corpo leve como se pudesse flutuar numa nuvem. Sua mente começa a trabalhar mais devagar, e a corrente de ar o presenteia com suaves calafrios e uma doce melodia, que dança pelas curvas dos seus ouvidos. Seus olhos ficam pesados e logo se cruzam sem que Alex perceba. Começa sua longa e fantástica viagem pelo inconsciente. Está de volta ao seu antigo apartamento. Júlia está reclamando e pedindo para parar de jogar. Alex rebate as palavras dela dizendo que se não fosse pelo jogo eles não teriam conseguido aquele belo apartamento tão rápido. “Nós já temos tudo que precisamos! Você não precisa mais jogar!”, continua Julia. “É claro que precisa! Hehehe...” diz uma voz familiar surgindo pela porta do apartamento. Alex olha para trás e reconhece seu velho companheiro de jogo, Cristóvão. “Não é Alex! Você não pode parar agora. Está ganhando muito! Vamos continuar nossa partida agora, o Wagner e o resto da turma estão esperando!”, insiste Cristóvão. “Não! Ele não vai! Acabou! E dá o fora do meu apartamento!”, grita Júlia. “Seu apartamento... sim agora é seu, mas se não fosse o jogo esse apartamento ainda seria meu! Tenho boas recordações dele e não foi fácil pra mim perdê-lo! Mas tudo bem... faz parte do jogo!”. “Sinto muito... mas tenho que ir. Dessa vez vou ganhar uma casa de praia pra gente!”, diz Alex. “Não! Já chega! Eu não quero mais nada! Só quero ter uma família descente e um pai responsável pros meus filhos. Um que tenha vontade de crescer na vida e não aceite ser escravo de um patrão explorador e que não desperdice seu tempo nessas porcarias desses jogos!”, reclama Júlia, “É só isso que eu quero...” diz ela novamente abaixando o tom de voz e tentando manter o controle. Em seguida ela respira fundo e diz “Já chega de tudo isso. Vamos viver nossa vida em paz. Não vá com ele... fique comigo! Vai ficar comigo Alex?”, Alex reflete por um tempo e sente seu coração amolecer ao ver os belos olhos de Júlia vermelhos e derramando lágrimas. “Essa vai ser a última vez. Eu prometo!”, diz ele. “Vá pro Inferno Alex! Seu doente!”, grita Júlia perdendo o controle novamente. Em seguida entra no quarto chorando e batendo a porta violentamente. “Ela vai te pedir perdão até de joelhos quando ver o que ganhou!” diz Cristóvão, “Vamos amigo!”.
O cenário muda sem que Alex perceba e agora ele e Cristóvão estão numa mesa de cassino clandestino, ao redor de outros jogadores; todos velhos conhecidos de Alex. As cartas estão espalhadas na mesa e a partida começa. A sorte estava do lado de Alex e ficou com ele por um bom tempo, até ela decidir mudar de lado e ir para perto de Cristóvão como uma bela moça que jurava ser fiel e agora vai embora, rebolando e sorrindo sarcasticamente. Cristóvão é o vencedor e sorri como se já soubesse disso. “Hehehe... parece que ganhei. Deixe-me ver... o Wagner perdeu R$ 10.000,00, mas é rico e não vai fazer falta... o Monteiro perdeu sua bela lancha, que pena... ah sim, ele também é rico e pode comprar outra. O Fernando perdeu sua moto, mas também tem muito dinheiro. O Alex perdeu seu apartamento, mas também é rico... opa, me enganei! Era tudo que ele tinha... sinto muito!”, diz Cristóvão ironicamente. Em seguida, todos na mesa começam gargalhar. Alex sente seu corpo gelar e seu coração bater forte. Pensa que vai ter um enfarto e acorda gritando “Não! É meu!”. “Alex pra que essa gritaria?”. Ao olhar para o lado vê Júlia deitada na cama. Espantado ele pula de cama confuso. “Mas como...?” Por um instante chega a pensar que tudo não passou de um grande pesadelo e está no seu antigo apartamento, mas ao olhar para os lados percebe que ainda continua no hotel. Júlia ainda meio sonolenta e com o cabelo desarrumado diz, “Ficou maluco? Vai acabar acordando o hotel inteiro!”. “Isso não pode ser verdade... como veio parar aqui?”, pergunta Alex ainda confuso e assustado. “Pensei bem na nossa briga e acho que não consigo viver sem você... Por isso te segui até aqui! Conversei com o balconista e ele me falou que você estava nesse quarto. Vi a porta entreaberta, entrei e te vi dormindo, então decidi me deitar do teu lado a acabei caindo no sono...”. “Mas que horas são?”,pergunta Alex para si mesmo olhando no relógio. Dez horas e quinze minutos. “Nem acredito. Estava tão cansado que poderia dormir a noite toda e parece que o sono foi embora!”. “Vai ficar aí parado sem me dar atenção?”, diz Júlia brincando, mas usando um tom de voz um pouco sério. “Desculpa! Confesso que estou muito feliz por você querer dar mais uma chance pra gente, mas é que parece tudo tão estranho...”, diz Alex. Júlia se levanta da cama e vai até ele dizendo carinhosamente “Vamos esquecer todos os problemas, está bem...?” dá um beijo rápido na sua boca abraçando-o em seguida, mesmo percebendo que ele ficou sem reação alguma, até no momento do beijo. “O importante é que estamos juntos...”. Alex se mantém indiferente aos gestos carinhosos de Júlia, não por grosseria e sim porque ainda está perdido em suas reflexões tentando encontrar respostas. Em seguida, volta ao presente e se delicia com sua pele macia abraçando seu corpo, sua cabeça encostada no seu peito e seu cheiro dotado de um perfume natural, suave e único. Aos poucos ele vai abraçando-a, sorrindo afetuosamente com os lábios cruzados e deitando com cuidado seu queixo naqueles cabelos desarrumados. Ela nunca esteve tão linda.
Decidem sair e jantar em algum lugar por perto. Para surpresa de Alex todos os outros hóspedes estão acordados e felizes conversando com entes queridos que pareciam não ver a tempos. Por cerca de segundos uma bola de futebol não acerca a cara dele. “Me desculpe amigo. Estava só dando uma aquecida antes do jogo!”, era o senhor que estava no sofá. Ele estava diferente. Parecia bem mais jovem e com um porte físico atlético. Estava vestindo um uniforme da Seleção Brasileira de Futebol. “Sonhei com esse dia a minha vida toda e hoje acabo de ser convocado pra jogar na Seleção! Estou muito feliz, mas tenho que treinar mais. Sim, ainda estou muito mal... preciso melhorar! Se me dão licença...” após dizer isso pega a bola e vai correndo a passos curtos e em pouca velocidade como se estivesse fazendo exercícios. “Ah, você está aí!”, diz a viúva que ele conhecera na recepção. Ela está vindo em sua direção de mãos dadas com um homem aparentemente da mesma idade. “Olha, sei que não nos conhecemos muito, mas tenho que repartir minha alegria com alguém. Meu marido não estava morto! Ele está aqui comigo!”, diz ela abraçando o homem ao seu lado. “Que bom saber disso... eu também me dei muito bem hoje!”, diz Alex tentando esconder seu enorme susto. Principalmente quando vê o recepcionista índio vestido como um guerreiro de tribo carregando seu filho no colo e segurando nas mãos de sua esposa grávida. “Minha tribo ainda existe!”, diz ele sorrindo.
Tudo parece uma grande festa, mas não para Alex, que sabe no fundo que nada daquilo pode ser verdade. “Que foi querido...?”, diz Júlia carinhosamente. “Não está feliz em me ver?”. “Sim, claro... mas é que essas pessoas... tudo isso... a verdade é que não acho que isso seja real!”, responde ele “Nem você...” dessa vez seus lábios pesam, seu coração doe e sua razão pede para que ele esteja errado. Júlia beija sua boca, “Isso não parece real pra você?”, diz ela em seguida. “Não. Sempre gostei dos seus beijos, mas confesso que nunca consegui imaginar toda a sensação que eles me causam...”. Júlia se afasta séria e o encara nos olhos. “Ela nunca vai te perdoar pelo que fez! Por isso deveria aproveitar a noite e deixar seus sonhos favoritos serem reais...”. “Quem é você?”, pergunta Alex. “É apenas sua imaginação meu amigo” diz uma voz surgindo de trás. È o senhor idoso da cadeira de rodas. “Ela é como minhas últimas noites de corredor aqui no hotel e é como minha falecida esposa Rose, que me visitou durante uma semana inteira até eu me convencer de que não podia mais viver com uma ilusão. Esse não é um hotel comum... aqui as pessoas nunca dormem mais que alguns minutos e seus sonhos criam vida, que durará a noite toda. Sei que tudo parece estranho e sem explicação, mas é assim que as coisas funcionam por aqui.”. “Não ligue pra ele! Aproveite a noite! Estamos juntos e, se ficar aqui pra sempre, todas as noites eu virei visitá-lo.” . “Não sei se quero isso...” diz Alex acariciando seu rosto. “Não posso fugir dos meus problemas. Tenho que continuar seguindo pela estrada lá fora e começar de novo...” , “Para novamente perder tudo pro jogo?”, pergunta Júlia lagrimando. “Fique aqui comigo. Estou de dando uma chance...!” . “Não posso, sinto muito...”.“Eu também te darei uma chance Alex!”, diz uma voz familiar vindo de trás. É Cristóvão e atrás dele seus amigos Wagner, Monteiro e Fernando sentados numa mesa com as cartas arrumadas. “Será que vocês não se cansam de explorá-lo?! Deixem agente em paz!”, grita Júlia.“Por favor, minha querida, fique quieta, porque você o abandonou quando ele perdeu tudo.”, diz Cristóvão olhando Júlia nos olhos e depois olha para Alex sorrindo ironicamente, “Vamos Alex, uma partidinha de pôquer com seus velhos amigos! Hehehe...”. “Vamos Alex, quem sabe dessa vez você não consegue um monte de madeiras pra construir um barraco! Hahaha...”, diz Wagner e começa gargalhar junto com Monteiro e Fernando. “Parem rapazes! Assim vocês vão assustá-lo. Hehehe...”, diz Cristóvão, “Vamos Alex, estamos só te esperando!”. “Não, ele não vai!”, grita Júlia. “Alex, você vai deixar essa exploradora lhe enganar de novo? Ela é só um atraso pro seu sucesso. Você é um cara de sorte e dessa vez estamos aqui para te dar uma chance. Não preciso daquele velho apartamento, e estou disposto a apostá-lo!” , “Dessa vez não dá! Não tenho nada para apostar graças a vocês!”, grita Alex. “Tem sim. Que tal sua alma? Hehehe” , “Como assim?”, pergunta Alex. “Não rapaz! Não deixem que eles te aprisionem aqui também! É tudo que querem?” , alerta o senhor na cadeira de rodas, “Lembre-se que são apenas ilusões! Você não ganhará nada!”. “Eu preciso! Eu tenho que vencer deles!”, insiste Alex. “Não querido fique comigo!”, implora Júlia, porém ele novamente ignora, senta-se à mesa e pega suas cartas.
O jogo começa e parece que realmente a sorte mudou de lado, pois as fichas de Alex estão acabando e ele sabe que quando perder todas, perderá sua alma. O tempo passa despercebido para os jogadores e principalmente para Alex. Por alguns instantes ele sente que não pode ganhar e se arrepende de ter seguido seu vício novamente. Mas parece que as coisas começam a melhorar e suas cartas são boas. Porém, na hora de amostrar os baralhos Cristóvão ganha novamente, “Agora sua alma é minha! Ahahahaha”. Alex sente o peso da vergonha e da derrota no peito e encolhe o corpo tentando imaginar o que irá acontecer em seguida. Terá que ficar naquele hotel para sempre? Será que será um escravo do hotel como o índio?. “Verifique os punhos dele Alex” , diz o senhor na cadeira de rodas. Alex olha rapidamente para os pulsos de Cristóvão e vê cartas escondidas na manga. “Então você não passa de um maldito ladrão!”, grita Alex levantando-se e batendo na mesa violentamente. “O que vai fazer agora? Sua alma já é minha! Ahahaha”. “ O senhor está enganado”, diz o senhor na cadeira de rodas, “Já amanheceu a quinze minutos. Todas os outros sonhos já desapareceram. Falto só você e seus amigos!”. “Não pode ser! Isso não é justo! Alex, a tua alma pertencesse ao hotel! Não pode mais sair daqui.Você agora é um escravo!”, grita Cristóvão desaparecendo junto com a mesa, o baralho e os seus amigos. “Não se preocupe rapaz, eles sempre dizem isso!” diz o senhor, “Está livre pra ir quando quiser...”. “E você? Posso lhe tirar daqui!”, diz Alex. “Não meu amigo, já estou muito velho e logo vou reencontrar minha querida Rose. Além do mais, esse hotel precisa de alguém lúcido para ajudar forasteiros como você! Mas vá e seja feliz em sua nova vida, e largue esses malditos jogos!” . “Pode deixar...”, diz Alex. “Adeus querido... sei que não sou real como ela, mas o que senti por você era real...”, diz Júlia lagrimando e desaparecendo.
Alex pega suas coisas sobe na moto e segue a estrada. O sol nascerá em poucos minutos e mesmo passando a noite com insônia, ele parece bem disposto a só descansar quando finalmente encontrar uma nova cidade. Pode não ter conseguido sua antiga vida de volta, mas o que o espera no fim da estrada é uma vida nova, e talvez muito melhor.

sábado, junho 09, 2007

NOVOS CONTOS EM BREVE!

Estou trabalhando em novos contos para o meu blog! Aguardem!!!

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quarta-feira, janeiro 03, 2007

Bem vindo a 2007!

2006 foi um ano um pouco estranho pra mim, passei por situações não muito boas que foram benéficas de certa forma. Mas não estou muito afim de falar disso, então vamos mudar de assunto...
Quando criança pensava que depois do ano 2000, se o mundo nao acabasse ,viveríamos num futuro com carros voadores, realidade virtual, robôs que fariam serviços domésticos contatos com civilizações de outros planetas, etc. Algo parecido com o 5 elemento. Até agora nem tudo isso aconteceu. Claro, no Japão a robótica está tendo um grande avanço e a biotecnologia também. Realidade virtual como nos filmes da série Matrix e WebMaster(outro filme de sci-fi muito bom!) ainda estão em fase de desenvolvimento, mas já existem bons simuladores de realidade virtual por aí. como videogames, internet, simuladores de parques de diversão e, claro, a Mídia que em certas ocasiões nós mostra um mundo maravilhoso que não existe(mas isso já é assunto pra outra ocasião). Ainda não mantemos contatos diretos com povos extra-terrestres, mas talvez isso não demore tanto para acontecer. De certa forma estamos vivendo num futuro fantástico que para nossos antepassados era impossível.
Bom chega por hoje, feliz 2007 para todos e quem começou o ano ruim que termine bem e quem começou o ano bem que termine melhor ainda! Agora é esperar para ver o que acontecerá nesse novo ano!
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